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Saturday, July 8, 2023

Os Arctic Monkeys vieram ao Alive em 2023 mas Alex Turner continua preso nos anos 70 - NiT New in Town

“You’re getting cynical and that won’t do”. É uma das frases que Alex Turner, o vocalista e líder dos Arctic Monkeys, profere em “There’d Better Be A Mirrorball”. Traduzido à letra, fica algo como “estás a ficar cínico, e isso não vai dar”. É um curioso exercício de reflexão, talvez um descuido freudiano, porque nunca vimos a banda britânica tão cínica quanto no segundo dia do NOS Alive.

Sublinhe-se desde já que este foi o melhor concerto que o conjunto de Sheffield deu em Portugal nos últimos anos, batendo por larga margem as atuações neste mesmo festival em 2018 e no Kalorama em 2022. Banda confiante, som preciso e opulente e um alinhamento que, sendo discutível pela sua clara preferência aos temas do álbum “AM”, foi gerindo bem a sua energia, salvo alguns momentos mais morosos.

Há uma década, não seria controverso afirmar que os Arctic Monkeys eram relativamente consensuais. Desde então há quem lhes tenha ganho pó pela sua inflexão para um estilo mais comercialmente apelativo em “AM”, e há quem sinta enfado pela sua digressão pelo cançonetismo dos dois últimos álbuns. Acima de tudo, há quem não lhes perdoe o pecado capital de terem envelhecido, perdendo aquele entusiasmo juvenil dos primeiros álbuns. 

Algo inevitável, e até preferível a ficarem agarrados a um tempo onde já não se reveem. No entanto, não quer isso dizer que a postura que Alex Turner adotou nos anos recentes favoreça minimamente a banda. Após brincar aos motoqueiros dos anos 50 na fase “AM”, a banda decidiu ir beber ao estilo lounge dos anos 70, com Turner o mais elemento debonair do quarteto. Os Arctic Monkeys parece que deixaram de ir tocar ao “The Ritz”, sala de espetáculos de Manchester, para irem atuar no hall de um Ritz de cinco estrelas.

A questão que se coloca é que essa nova identidade não se limita à estética, sendo também uma opção artística que se estende para lá das digressões ecléticas pós-”Tranquility Base Hotel & Casino”. Turner passou a cantar com um sotaque extra-afetado, abusando do vibrato, tentando colocar o astral do público mais alto que o colarinho da sua camisa. Após anos a ser criticado por falta de presença em palco, Alex Turner foi buscar um bocadinho de Paul McCartney, um bocadinho de George Harrison e um bocadinho de Tom Jones. Durante o concerto, esteve a um “thank you very much” de parecer um Elvis Presley tardio e a umas gingas extra de ancas de ser o Tobey Maguire versão boogie no “Homem-Aranha 3”.

Turner passou o concerto a alternar entre a guitarra e as mãos livres, e das duas opções pareceu notório que se queria ver livre do instrumento sempre que podia para continuar a evocar um artista de variedades do século passado. O vocalista apresenta-se como se fosse uma personagem à Andy Kaufman, mas a mostrar-nos claramente que sabe que a está a encarnar. Como quando introduziu à beira do riso “I Ain’t Quite Where I Think I Am”, referindo-se a esta música como um “number”, o que seria como alguém em Portugal dizer que é uma “cantiga”.

Nada disto, lá está, é necessariamente mau, já que os Arctic Monkeys tornaram-se mestres a domar o palco. Mas é um artifício ruidoso que cansa ao fim de hora e meia de concerto e ameaça tornar as suas canções mais antigas versões parodiadas de si mesmas, ainda que seja difícil arruinar “Brianstorm”, “Don’t Sit down ‘Cause I’ve Moved Your Chair”, “Fluorescent Adolescent” ou “The View From The Afternoon”.

Nesse aspeto, compreende-se a opção da banda em dedicar uma boa fatia do concerto a “AM”. É um dos álbuns que melhor se presta a esta nova teatralidade dos Arctic Monkey, seja pelos falsettos de “Snap Out of It”, a energia sexual de “Knee Socks” ou a marcha carnal de “Do I Wanna Know?”. Este tema, em particular, levou previsivelmente o público ao rubro, tal como o tinha feito 10 anos antes quando foi estreado por cá no Super Bock Super Rock de 2013.

O encore chegou com a infeliz escolha de “I Wanna Be Yours”, que pode ser imensamente popular mas é inferior a muitos outros temas de Arctic Monkeys e, nesse momento, cansou em vez de puxar o público. O erro foi colmatado por “I Bet You Look Good on the Dancefloor”, que continua a ser a mesma descarga de punk dançável, e “R U Mine”, que é de longe o melhor tema do “AM”, e provocou provavelmente a reação mais entusiasta de todo o festival.

Quando a banda abandonou o palco, começou-se a ouvir outra das grandes inspirações dos Arctic Monkeys — e de Turner, principalmente — para esta sua nova fase: Joe Cocker, a cantar “With a Little Help from My Friends” dos The Beatles. É uma versão extraordinária e uma excelente forma de recordar que Cocker só houve e só haverá um. Vá, Alex, “snap out of it”.

Leia a cobertura do concerto de Lizzo no mesmo dia, assim como a crónica do concerto dos The Black Keys e a atuação dos Red Hot Chili Peppers no dia 6 de julho no NOS Alive.

A seguir, carregue na galeria para ver mais imagens do concerto dos Arctic Monkeys.

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