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Friday, May 27, 2022

O Monstro vai ter sempre muitos amigos - Jornal de Notícias

O Douro, a noite quente, o Porto alegre, a nostalgia, os Ornatos Violeta. Há uma comunhão incomum entre todas estas coisas. Um regresso é sempre um regresso, mas sempre que há um de Ornatos Violeta sabe diferente. Em comum só têm a energia que ontem voltou a não faltar à icónica banda de culto do rock dos anos 90, no JN North Festival. Linda Martini foi agridoce.

O recinto do JN North Festival, que este ano está maior, acusou o facto de ser quinta-feira e estava pela metade, mas nem isso impediu os presentes de cantarem de cor, quase do início ao fim, todos os temas que os Ornatos Violeta percorreram ontem na Alfândega do Porto. O Douro dá sempre uma toada mítica, sobretudo ao crepúsculo, a este festival que é caso sério entre os recintos mais bonitos da Europa.

Desta vez, fruto de um cartaz repleto de nomes figuram no panorama do verdadeiro rock nacional, o ambiente estava graciosamente familiar, o que não deixa de ser singular num aglomerado que terá andado perto das dez mil pessoas.

"Capitão Romance", imortal conjunto de acordes que desperta arrepios mal começa a ser ouvido, foi a escolha para primeira música e logo ali o público ficou ganho. Manel Cruz, de regresso aos palcos com os Ornatos pela primeira vez desde a pandemia, transpirava felicidade.

Ao terceiro tema, outro das grandes, "Dia Mau", já o vocalista balanceava em tronco nu, reafirmando uma imagem de marca que nasceu no outro milénio, há uns cabelos brancos atrás. No público, uns saltavam, outros dançavam, alguns mais raros só fechavam os olhos a desfrutar de um momento que nunca sabem se vão ver repetido. Afinal, esta é a terceira vida deste conjunto com 31 anos de carreira que já passou por dois hiatos. Não há planos para o futuro, como confidenciaram em entrevista ao JN.

"Ouvi Dizer" teve, como se esperava, muitos a acompanhar Manel Cruz do início ao fim. Aliás, tiveram quase todas as que constam do álbum "O Monstro Precisa de Amigos", o segundo de originais que os Ornatos Violeta lançaram, em 1999. A interação de Manel Cruz com o público também é assinalável. Notou-se que jogava em casa. Muitos são amigos dele, outros são só amigos do monstro, daquele que dá o nome ao disco que tantas vezes lhes deu uma adolescência feliz.

À medida que cada música findava, elevava-se mais a comunhão portuense, em parte por obra de Manel Cruz, que sabe como poucos falar ao coração da cidade. Não só entre músicas, mas também nas letras, que são verdadeiros salmos do rock nacional.

"Esta música nasceu na estação da Trindade quando ainda tinha comboios, não havia metros", disse, antes de também fazer referência ao antigo espaço noturno Aniki Bobó, que os Ornatos Violeta frequentavam na adolescência, na baixa portuense. Eles e muitos dos que até hoje os seguem para todo o lado. A música que nasceu na Trindade é a belíssima "1 beijo=mil".

Como também já era de prever, o público foi ao delírio com "Chaga", a mais vibrante e talvez a mais badalada da carreira da banda. Manel Cruz, de cócoras, lançava um intenso olhar sobre a multidão em êxtase, aos pulos. Saíram assim para o primeiro encore. Regressaram com um punhado de bons temas, entre eles a poderosa "Pára-me agora", para logo arriscarem o segundo encore. Voltaram de novo para fazer "uma javardeira", como constatou Manel Cruz, perante uma mistura de distorções que tinham acabado de rematar o espetáculo.

Um regresso é um regresso e um de Ornatos Violeta é sempre tão nostálgico que já só estamos a pensar no próximo. Cada concerto é um processo de exorcização da nostalgia gerada a cada hiato, mas é remédio para durar pouco tempo. Concluindo, ninguém parece querer novo intervalo nesta carreira, mas como se pode pedir seja o que for seja a quem já nos deu tanto?

Concerto agridoce de Linda Martini

Antes de Ornatos Violeta houve Linda Martini, um concerto com sabor agridoce. Por um lado, o álbum Errôr engrandece surpreendentemente bem o espetáculo ao vivo e o guitarrista David Carvalho (conhecido por Filho da Mãe) apareceu como peixe na água, sem se notar a ausência de Pedro Geraldes, que deixou o conjunto em fevereiro. A parte má é que soube a pouco e ainda é difícil digerir a saída de alguns êxitos do alinhamento para que o novo disco ganhe força.

O alinhamento do concerto andou sempre à volta do álbum Errôr, a criação oriunda da pandemia dos Linda Martini que retrata, aqui e acolá, as vicissitudes da conjuntura sanitária vivida em 2020 e 2021, em temas como "Taxonomia", "Horário de Verão" ou "Não sobrou ninguém". "Taxonomia", diga-se, é um prodígio musical se absorvido ao vivo.

O concerto começou com "Eu nem vi", também do álbum Errôr, sem pedir licença e com boa aceitação do recinto, que estava pela metade no momento da atuação. Logo ali se notou a diferença das explosões sónicas, bem mais maduras e pujantes que as das bandas anteriores, às quais se juntava uma tela a preto e branco.

Ainda assim, os temas de outrora de Linda Martini continuam a ser os mais aplaudidos. "Boca de sal" foi a terceira e deixou a primeira boa imagem de David Carvalho. "Cem metros sereia" foi outro exemplo. Houve ainda lugar a um momento de agradecimento pós-pandemia, que começa a ser da praxe, e que coube à baixista Cláudia Guerreiro no caso dos Linda Martini: "Depois disto tudo, é uma felicidade estar aqui convosco".

O concerto de Linda Martini no JN North Festival é um conjunto de sensações contrastantes. É difícil não gostar de uma atuação tão profissional - talvez a mais segura da noite no registo mais difícil de o ser - mas ficou a faltar mais. Talvez mais tempo. Valha-nos que a produção conseguiu captar Makoto Yagyu, baixista de Paus, a fazer crowdsurfing ao som de Linda Martini.

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